A parede em sua frente é de cimento manchado pelo tempo. Ele se dá conta de que está a pensar sobre as coisas e começa a pensar sobre o que os pensamentos pensam. Repara ao lado direito uma menina que vomita ao lado de uma amiga que observa o líquido que jorra de seu esôfago (mas ela só vê uma garganta). Ele atualiza seus pensamentos, pois quando olhou aquela imagem logo ao chegar viu duas meninas procurando algo pelo chão. Agora sabe o que de fato passa: êmese. Se fosse dia seria mais fácil enxergar as coisas que estão ali. As sombras nos possibilitam ver ao lado de dentro. Do lado esquerdo um homem se inclina para fora da janela, parece ansioso à calcular o tamanho do tempo do engarrafamento. Mas o tempo não tem tamanho, tem duração. Tem ritmo. Toca mais uma marchinha de carnaval. Numa diagonal acima percebe outro avião que sobrevoa Olinda e faz uma manobra de descida. Aterra seu pensamento para o líquido que segue a escorrer. O líquido leva-o até o mar, atravessando a avenida ao lado direito – lado este que não está engarrafado.
Outras pessoas chegam e saem da parede cinza. O cheiro já forte aumenta. Caminham, dançam, gritam pessoas. Algumas inclusive choram, pois mesmo na mais intensa euforia, ainda que por vezes mascarada, a tristeza faz parte da festa. Ele sente fome. Quer voltar e dançar. Sacode seu quadril, seca, e segue a caminhar. Ela dança com gosto de vomito e alívio. Ele segue no engarrafamento. E alguém aterrissa e outros voam. Assim são os pensamentos e tantas outras coisas.