“No começo cheguei a pensar que nessa viagem iria viver um romance, depois percebi que as coisas são diferentes”. Me mantive em silêncio. Nós dois pensávamos nas implicações desta afirmação, e eu com a incômoda sensação de que ela esperava algum tipo de manifestação em resposta, mas creio que logo percebeu que a manifestação era o silêncio. Independência, o nome da rua. Noite. Os carros passavam sobre o asfalto ainda molhado da chuva que já não caía mais. O tempo e a distância são estranhos companheiros, íntimos desconhecidos. O que vem antes e depois, é sempre isso, o que vem antes e depois. Caminhávamos em direção incerta, procurando um lugar qualquer para conhecer, algum canto que pudesse nos aquecer e o qual se ocupasse do nosso olhar. Provavelmente, um pouco de álcool e espaço para dizer o que se espera da vida. Crueldade da esperança, nela só há espera para o que nunca chega. Algumas pessoas cruzavam o nosso caminho. Um homem chamou minha atenção, parecia carregar um pesado cachecol. Desconhecidos tomando seus rumos. Sentia como se a rua caminhasse sob mim. Queria dizer algo que marcasse aquele momento, mas só o que me ocupava era o silêncio. Marcas do invisível. Distâncias que nos reaproximam de um longe de nós. Tínhamos a noite, o destino e a nossa independência.