Unoego?

Unoego é um labirinto transmídia de coisas, e cada uma dessas coisas é chamada unoego. Um unoego é algo que acontece na realidade, mas cuja vocação é entortar e transformar essa realidade, apropriando-se e potencializando sua força ficcional. Pode ser uma ação, um acontecimento, um produto ou mesmo um conceito, desde que tenha em si o caráter subversivo de deturpação das coisas que parecem existir em si e por si. Ao descascar a realidade, um unoego está sempre à espera de outro unoego que o venha a descascar, por isso os unoegos tendem a agrupar-se em uma espécie de universo – parcialmente contido neste site – chamado Unoego. A ligação entre unoegos é feita por hiperlinks, cada qual expandindo a realidade em que se meteu. Assim, por exemplo, um personagem de um unoego-texto pode reaparecer em outro como fotografia ou comentário, ou perfil de tweeter. Os sons circunstanciais de um unoego-vídeo podem desembocar em outro como música; uma ideia subsidiária em um pode assumir o centro de outro. O unoeguinho mais simples e despretensioso pode vir a disparar uma grande série de unoegos em profusão.

Sua rede é uma complementaridade expansiva. Nenhuma história está terminada,

Unoego é um complexo de coexistências

nenhuma imagem se fecha em si, por isso os unoegos não são obras, mas sim perguntas. Mesmo que demore dez anos para se derivar, um unoego está sempre em estado de vertigem, sempre a ponto de. O Unoego, este ambiente virtual onde coexistem os unoegos, é uma espécie de jardim: está sendo esteticamente cuidado, recebendo enxertos, trilhas e direções – e nisso é também um LaBirInto. Em contrapartida, vai formando seu próprio bioma, e ninguém tem controle sobre sua miríade de sentidos – que pode provocar labirintudes. Mas o Unoego não é o único lugar onde se podem encontrar unoegos. Em todos os lugares e tempos encontram-se unoegos, porém somente aqui eles estão propriamente nomeados. São unoegos (conscientes ou não) o Odradek de Kafka, os Cronopios e Famas de Cortázar, os ready-made de Duchamp, as construções inacabadas para a copa de 2014, o sistema financeiro internacional, enfim, todas as coisas que colocam em cheque a noção de real, todas as coisas que constituem uma apreciação incontornável do absurdo, que obrigam a mente a forçar sentidos, sendo que esses sentidos não podem ser plenamente aceitos como verdadeiros, por isso dão lugar a novos unoegos. Os unoegos se imiscuem no feijão com arroz, nos dígitos, na linguagem, assez très forts -in- comprensibles, e mesmo que você esteja buscando uma explicação, um meta-Unoego, por assim dizer, pode

encontrar-se novamente com as fissuras

, que o ponham em dúvida.

Por isso unoegos são perguntas. Eles derretem a essência das coisas, porém todas as coisas precisam ser alguma coisa e, uma vez sua essência derretida, devem se reconfigurar de alguma forma. No Unoego, você se navega por unoegos, porém você é o mar, que se esvai e não pode ser contido. Com frequência, você se di vi de, segue em linhas paralelas, correlatas, porém sem saber qual delas é a serta. Precisa follow up and down instintos de rastros com restos de wissenshaften wasser pianoforte klavier. E o mais importante, très très très très: quando você desagua, se perde em caminhos esfumaçantes, está inadvertidamente criando unoegos, lendo unoegos onde não estão (isto, exatamente aqui, será um unoego?). Há uma fenda enorme, bem no meio do texto que deveria estar definindo, desambiguando, e por ela você mete a mão, e se põe descascá-lo,

e eis que a própria

gana de saber que é isso o leva a produzir mais disso mesmodisso mesmo a coisa em si, que se revela outra ao olhar do desprevenido interator do Unoego em seus dias mais anis tia para todos os participantes desta seita, coisa em si que desagua e seguirá desaguando, e todos sabem que em breve já não poderá mais ler, mesmo que forcem os olhos a tirar proveito das palavras,

elas já não mais entendem seus leitores.

 

quando você desagua, deixa um pouco de si escapar, wasser por entre dedos, le jardin que corre e escorre, esto es, corre pero mucho. E o que é esse pouco de si, senão um unoego?

É por isso que dizíamos que unoegos chamam unoegos. Trata-se de algo relativamente lógico, em absoluto in question of seconds and first go. Como num ateliê-laboratório.

Eis que a própria coisa em si era já unoego cheio recheio, mas comum

quando você desagua, se multiplica em espaços tão seus que nem os reconhece
unoego?

 

 

 

a coisa em si

Unoego é, portanto, um manifesto,

construído em linhas tortas, com palavras que se sobrepõem a imagens e sons
e se emaranham até se fundirem, formando um lindo

bloco de coisas indizíveis e, por isso mesmo, verdadeiras

colunas que se erguem até aparecer em algum lugar inóspito que é ainda Unoego, ainda seita feita de saberes
científicamente comprovados em laboratórios, publicados em artigos que você persiste em ler, mesmo sabendo que não vai poder entender mas o que é entender, afinal, senão criar?

com o que se tem em mãos, com o que se faz na ponta dos cabelos (e por isso Unoego é um projeto)

<divclass=”roda-3″>de pessoas pacatas, que buscam esmiuçar a vida em cliques que encontram debaixo de cliques, até encontrar um projeto formatado de acordo com as normas da ABNT

e se emaranham até se fundirem, formando um lindo

bloco de coisas indizíveis e, por isso mesmo, verdadeiras

colunas que se erguem até aparecer em algum lugar inóspito que é ainda Unoego, ainda seita feita de saberes
empiricamente comprovados em salas de estar, ao lado de pets que assentiram ao
sentido que lhes foi outorgado mas o que é entender, afinal, senão criar?

 

E isto é Unoego