Uma entrada

E cada qual foi chegando a seu tempo. Já numa primeira olhada, tinha-se a impressão de que cada coisa estava ali desde há muito, sabe-se lá quando, dispostas com o mais precioso cuidado: cada coisa exatamente fora do lugar onde deveria estar. Entra elas, Bruno e Diego (sujeitos a objetos).

– Gostaríamos de agradecer-lhes por seu tempo, coisa tão escassa hoje em dia. Prometemos não tomá-lo em excesso, mas em verdade o manejo e o jogo com o tempo será seu, e do próprio tempo. Nós não temos nada a ver com isso. Nos couberam apenas o convite e o aguardo, portanto se quiserem deixar esta porta para retornar mais tarde, aqui estaremos, à sua espera, precisamente neste cômodo onde estamos, muito cômodos que somos. Mas verão que seremos outros. Este convite, afinal, trata sobre o ver, sobre as perspectivas de espaços e tempos.

Por seus olhos somos gratos, por sua atenção, pelo seu corpo e sua disposição. Esta entrada foi cuidadosamente pensada para que pudéssemos compartilhar unoegos.

Há alguns meses fomos tomados por essa coisa, da qual lhes convidamos agora a fazer parte: Unoego

Silêncio. Ambos vagueiam pescoço e cabeça com os olhos a fitar, sabe-se lá o quê.

Não parece uma procura, senão um passeio ordinário, para o qual as cabeças e pescoços e olhos passam a se olhar também. Todos a olhar e ver as coisas que estão ali: tudo, na verdade, é um grande olho arregalado, e inadvertidamente algo se move, algo escorre, algo desmancha e se encaixa, um buraco se expande e uma rachadura se fecha sem que nada pareça sair do lugar enquanto tudo muda e se move, move, move e se move e entre isso:

A partir de AGORA, precisamente AGORA, Unoego está sempre aqui. Sintam-se convidados a visitar essas coexistências: podem olhar, fotografar, fuçar, ecarandrenear e comentar.

                                             Em cada canto deve haver unoegos. Sempre há onde há de haver.

 

Aqui estamos há algum tempo, tomados por esses unoegos. Em sobressaltos, com paciência, destemperos, labirintudes, inversinadas e desditudes. Unoegos. De tempos em tempos surge um aqui outro lá, e aos poucos vão se interligando nesse labirinto sem fim, um indecidido indecifrável jardim.

E a fala dividida passa a ser dita numa sincronização em uníssono:
– Convidamo-lhes a partilhar, dentro do próprio Unoego, o que passa no Unoego. O que passa ao passearem por esse espaço. Seus olhos, seus dedos, seu corpo, unoegos. Unoegos aqui e acolá. Aqui mais um unoego quiçá. Nós todos em unoegação. Unoegai, irmãos, unoegai!

E uma seguinte folha de instruções foi fornecida:

2 comentários Adicione o seu

  1. LEONARDO MORALES diz:

    Sensacional!! Feliz em ser um dos primeiros a passar por aqui, espero novidades em breve. Detalhe pra canção sujeitos e objetos, muito subjetiva, aberta a múltiplas interpretações, muito legal!!

  2. Airton Tomazzoni diz:

    Unoeguemos! já gosto do nome. Afinal é possível sim religarmos nas nossas singularidades e partilhar comuns. Dasambiguações-desumbigações. Feliz com território de coçar o pensamento e deixar ir. Logo, mais espiadelas e impressões indecididas. A linguagem é nossa e a inventividade parceira!

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